Gravação do Manos e Minas, programa que será extinto (Foto: Cleones Ribeiro)

O processo de reestruturação da TV Cultura, que tende a trocar a produção pela compra de conteúdo, terá como primeiras vítimas os programas Vitrine, Login e Manos e Minas. Essas atrações serão extintas. Letra Livre e até os concertos da Osesp (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo) estão ameaçados.

Em entrevista ao repórter Jotabê Medeiros, publicada hoje em O Estado de S. Paulo, o presidente da Fundação Padre Anchieta, João Sayad, anuncia a extinção do Login e do Manos e Minas, ambos dirigidos ao público jovem. A notícia surpreendeu profissionais das duas produções, que ficaram sabendo pelo jornal que poderão ser demitidos.

Sayad disse também que o Vitrine “deverá ser suspenso para reformulação”. Nos bastidores da emissora, o que corre é que o Vitrine sai do ar, mas não volta. Sayad tem dito reservadamente que acha o programa “chato”.

Em reuniões na emissora, o presidente da fundação tem afirmado sua intenção de não mais captar concertos da prestigiada Osesp, mantida pelo governo estadual. Sayad quer também encerrar a cobertura do Festival de Inverno de Campos do Jordão, tradicional evento de música erudita. Sua justificativa: é caro captar apresentações de orquestras; sai mais barato comprar material do exterior.

Já o Letra Livre, de literatura, poderá se fundir a outro programa do mesmo gênero, o Entrelinhas.

Mas nem tudo é tragédia na TV Cultura. A emissora está investindo no Metrópolis, que deverá voltar a focar em cultura popular, no Jornal da Cultura (que passará a ser um jornal de debates, a partir de setembro) e no Roda Viva, que contratou Marília Gabriela, numa tentativa de recuperar prestígio.

Na entrevista publicada por O Estado de S. Paulo, João Sayad confirma, à sua maneira, as informações publicadas em primeira mão por este blog, ontem.

O economista nega que haverá demissões em massa (o que qualquer um, no lugar dele, faria). Mas admite cortes. “Haverá mudanças nos quadros, isso é certo”, afirmou a Jotabê Medeiros.

Sayad confirmou o fim da produção de conteúdo para terceiros (TV Justiça, Tribunal Superior Eleitoral, Assembleia Legislativa de São Paulo), atividade que gera R$ 60 milhões por ano. Explica: “Dá um trabalhão, gera um porção de problemas trabalhistas, e, em vez de se dedicar à atividade-fim da própria TV, passa a se dedicar à produção para outras duas TVs. A receita que se consegue não justifica o comprometimento de tanta gente da TV Cultura trabalhando”.

Sayad confirmou até seus planos de vender o patrimônio da Cultura:

“Isso é uma implicância minha. Eu acho que, numa reformulação, quando a TV for mais ágil e mais moderna, quando nos tornarmos compradores de conteúdo, pode perfeitamente prescindir de um espaço tão grande. Mas não tem nada certo. O terreno lá tem 30 mil metros quadrados de área, com uns 8 mil metros de área construída. Isso é um modelo da TV dos anos 60, que hoje pode ser menor e mais eficiente. Mas é um projeto a longo prazo”.

O R7 tenta desde segunda-feira uma entrevista com João Sayad.

Daniel Castro

R7